sexta-feira, 28 de junho de 2013

Sobre as Manifestações de Junho







           Sei que o mobilizacajuzp é intencionado para falarmos sobre o problema de nosso bairro. Vejo, porém, a necessidade de estarmos informados corretamente sobre a situação política de nosso país.
          Visto que os telejornais e os jornais impressos omitem e por muitas vezes, distorcem as informações, tentarei trazer aqui um breve resumi e uma reflexão sobre as manifestações que ocorreram em todo o país.


Professor da rede estadual ferido com bala de borracha no dia 30/06. 
 
           Desde o ano passado, na campanha eleitoral para prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, os jovens se organizaram para viabilizar uma campanha igualitária dos candidatos dos partidos de esquerda. Partidos como PSTU, PSOL e PCB disputaram as eleições de forma desigual contra a mega aliança de 20 partidos que levaram a eleição do atual prefeito Eduardo Paes (PMDB).
             Com a reeleição do atual prefeito, a juventude que se organizou voluntariamente na campanha do deputado estadual Marcelo Freixo, (nomeada de Primavera Carioca) encampou um calendário de manifestações contra a atual política de privatização e remoções,  que fazem parte do programa político de Eduardo Paes. Uma dessas manifestações encampada pela Primavera Carioca é a luta contra o aumento das passagens.
            Nas primeiras manifestações contra o aumento das passagens - anunciado uma semana após a reeleição de Eduardo Paes – o público presente era, em sua maioria, das organizações de esquerda e dos movimentos sociais. Alguém lembra da menina que levou choque de um policial militar durante uma manifestação em frente a Prefeitura? Pois é, nós lembramos! Apenas 100 pessoas compareceram a este ato.
20/06 
            Com o aumento das passagens deste ano, toda a indignação que vinha sendo acumulada nos últimos anos pela população aflorou de uma forma nunca antes vista. Com as primeiras manifestações televisionadas de São Paulo, o Rio de Janeiro conseguiu levar 10 mil pessoas às ruas no dia 13 de junho. Desde então, a TV GLOBO e todos os outros jornais, anunciavam as manifestações como atos de uma juventude vândala e vagabunda.
            No dia 16 de junho, houve o primeiro jogo da Copa FIFA do estádio do Maracanã. Houve também, uma manifestação contra o aumento do custo de vida. Esta manifestação foi marcada pela violência que a Polícia Militar trouxe para as ruas do bairro do Maracanã e para o parque Quinta da Boa Vista. Além dos excessos cometidos contra os manifestantes com bombas de efeito moral, bomba de gás lacrimogêneo e sprays de pimenta, a Tropa de Choque da Polícia Militar atacou os manifestantes no próprio parque da Quinta da Boa Vista – onde estavam famílias inteiras passeando num domingo de Sol. A Prefeitura trancou os manifestantes dentro da Quinta da Boa Vista, fato que foi motivo de ódio por parte das pessoas que estavam no parque.
          Vemos neste dia, a mudança do discurso dos meios de comunicação, novamente em especial a Rede Globo, onde em menos de DEZ HORAS, seu comentarista, Arnaldo Jabour, mudou TOTALMENTE o seu discurso de “baderneiros” para “eu errei”. Como todo meio de comunicação de massa, seu poder ideológico é muito forte para com a população. As capas de jornais como Meia-Hora e O Dia, traziam várias críticas a postura costumeira violenta da Polícia Militar. Isto trouxe consigo, uma aderência popular incomparável onde, no dia 27 de junho, cem mil pessoas foram a Avenida Rio Branco.
                Após a manifestação alcançar CEM MIL PESSOAS, TODOS OS JORNAIS "mudaram de opinião". Começa então, mais uma vez, a manipulação da pauta. Os jornais que sempre vandalizavam qualquer mobilização social, passaram a exercer o papel de PORTA VOZ das reivindicações sem NINGUÉM ter lhe dado a autoridade.   
                 No dia 20 de junho, mais de 1 milhão de pessoas foram na Presidente Vargas, marchar até a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. As pessoas que foram às ruas, foram "autorizadas" pelos meios de comunicação a irem, pois, todos os jornais traziam a "felicidade" de que o "povo" ia para as ruas. Porém, a resposta a violência policial ou quebrar algo na rua era tido como VANDALISMO. 

DIA 20
          No dia 20 de Junho, mais de um milhão de pessoas ocuparam a Avenida Presidente Vargas, fechando todas as pistas. Num misto de mobilizações diversas, encontravam-se movimentos sociais, partidos políticos e setores da classe média. Após a chegada da passeata em frente a Prefeitura começa o ato de terror orquestrado pelos governos Municipal, Estadual e Federal.
         Primeiramente, gostaria de esclarecer que não houve algum ataque das pessoas à Polícia Militar ou a Guarda Municipal. Nos esperavam na Prefeitura a Tropa de Choque, o Bope, a Guarda Municipal e a Cavalaria. Eu estava em frente a Prefeitura e posso dizer que, o que assustou os cavalos da polícia foram as bombas de gás lacrimogêneo que a Guarda Municipal atirou. 
           O primeiro ataque à passeata surgiu de DENTRO da Prefeitura por parte da Guarda Municipal. A Guarda Municipal lançou bombas da gás lacrimogêneo por uma arma de longo alcance nas pessoas que estavam paradas na Presidente Vargas. 
A prova de que foi a Guarda Municipal está nesse vídeo

 
   Começa assim, o terror que durou toda a noite do dia 20 de junho.
           As pessoas que tentaram se retirar da Presidente Vargas, seja pelo motivo que for, não conseguiam seguir, visto que a Tropa de Choque cercou as ruas transversais à Presidente Vargas e atacava as pessoas com bombas e balas de borracha. Em meio a um desespero generalizado, as luzes da Presidente Vargas foram apagadas, as câmeras da CET-RIO foram desligadas e os sinais dos celulares, simplesmente desapareceram.
           As pessoas foram encurraladas pela Tropa de Choque e o Bope por toda e qualquer rua do centro da cidade. O Caveirão da Polícia Militar e do Bope e o Blindado da Polícia também foram acionados contra os manifestantes, sejam eles quem for. O pânico fez com que as pessoas corressem desesperadamente em qualquer direção. Eu estava em frente a Prefeitura junto do meu namorado e de dois amigos, quando jogaram quatro bombas em nós e uma caiu em cima de meu namorado, nós nos perdemos. Fiquei somente com um amigo que me acompanhou até o sambódromo. Somente lá encontrei meu namorado, mas perdemos o quarto membro de nosso grupo.
           Tentamos ir embora pelo Campo de Santana, mas em todas as ruas que entrávamos, levávamos bombas e balas de borracha da Tropa de Choque. Fomos seguindo até a Praça Tiradentes. Ficamos em frente ao IBIS HOTEL, na esperança de que lá não fôssemos alvos das violência do Choque. Ledo engano, o Choque novamente respondeu a todos com bombas e balas de borrachas. Tivemos que ir desesperadamente para a Lapa, passando pela Rua da Carioca e Avenida Rio Branco (não me pergunte como).
            Quando chegamos aos Arcos da Lapa, achávamos que lá estaríamos a salvo – por se tratar de um bairro muito frequentado por turistas. Outro engano, embaixo dos arcos, a Tropa de Choque e o Bope nos cercaram e atiraram bombas e balas (dessa vez de verdade) contra nós. Ficamos perplexos com tal atrocidade, porém, tivemos que correr, pois o Caveirão avançava sobre nós.
           Dai em diante, vimos vários bares fecharem suas portas, pessoas que estavam em bares levaram gás e e balas de borrachas. Turistas e pessoas que não foram na manifestação se juntavam a nós, correndo para fugir da violência da Polícia Militar. Pessoas que estavam em boites e reclamavam com os policiais, também levavam spray de pimenta, bombas e balas de borracha. Acabamos encurralados numa das vielas da Lapa. Sem saber o que fazer e com a Tropa de Choque vindo nos dois lados da rua, invadimos um hotelzinho na Lapa. Nós e um grupo de 30 pessoas se esconderam no hotel, porém, não durou muito. Policiais da Tropa de Choque SEM identificação invadiram o hotel e ameaçaram jogar bombas caso não saíssemos. Todos saíram. Fomos rendidos pelos policiais. Nesta hora, fomos informados que seríamos liberados, porém, não podíamos sair juntos. Caso saíssemos juntos, iríamos levar bomba e balas de borrachas, segundo o policial da Tropa de Choque. 
Vídeo do Hotel:  
          Visto o fim de nosso terror, fomos em direção ao Castelo para finalmente pegarmos um ônibus para ir embora. No caminho porém, vimos um ato de extrema covardia por parte dos policiais. Ato este que nenhum veículo de comunicação anunciou : durante a varredura que a Tropa de Choque realizava pelo centro, bombas e balas de borracha foram atiradas sobre qualquer pessoa e grupo que estava na rua. Nisto, vimos um menino que levantou um cartaz perto dos quiosques que ficam de baixo dos arcos da Lapa. A resposta da Tropa de Choque foi rápida: dois policiais enforcaram o menino, jogaram-no no chão e lhe deram socos e pontapés. As pessoas que assistiam a tal fato, gritavam aos policiais para que parassem com tal atrocidade, e foram recebidas a bombas e balas. 


Vídeo do Choque apreendendo o celular do menino:



Myllena Cunha